
Uma das principais testemunhas de acusação no processo sobre a morte do menino Juan de Moraes, o repositor de mercadorias Wanderson dos Santos Assis, de 19 anos, considerado peça-chave do caso, relembrou o pesadelo que viveu na noite do dia 20 de junho do ano passado, quando testemunhou a morte da criança. O rapaz foi a segunda testemunha a ser ouvida nesta terça-feira (24) na audiência do processo que corre na 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Assis e Wesley de Moraes, de 14 anos, irmão de Juan, foram baleados e sobreviveram à ação policial na comunidade Danon que terminou com o assassinato do menino de 11 anos. Na noite do crime, os rapazes e o menino Juan caminhavam em fila pelo beco quando começaram os disparos.
- Vi quando Juan caiu no chão do lado esquerdo do portão, com a cabeça rente ao muro. Parece que o tiro foi no pescoço. Me desesperei. Eram muitos tiros, mais de 30. Não parava. Era uma carreira de tiros. Senti que a perna esquerda estava dormente. Me atirei no chão e fui rastejando. Ainda ouvi alguns disparos. Um passou bem próximo da minha cabeça. Me levantei e saí mancando.
Quando se deu conta de que havia sido baleado, Assis disse que Wesley não estava mais atrás dele, restando no local apenas uma mancha de sangue. O rapaz conta que conseguiu sair do beco e entrar em uma rua, onde, quase desmaiado, deitou-se no chão e ligou desesperado para o pai. Por sorte, foi reconhecido por uma mulher, que o ajudou a fazer contato com sua família.
- Vi que estava sangrando muito e liguei para o meu pai. Quando desliguei o telefone, ainda ouvi mais três disparos. Poucos minutos, pude ver uma viatura subindo, reconheci que era uma Blazer por causa das luzes que ficam no teto do carro. Tinha as cores da polícia e passou na direção do beco. Subiu a rua e deu para escutar as portas abrindo e fechando.
O rapaz foi socorrido pelo pai, um irmão e uma terceira pessoa, que o levaram para uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), onde encontrou Wesley, irmão de Juan, também baleado. O rapaz foi atingido por dois tiros de fuzil que atravessaram o abdome e as pernas.
Estudante e trabalhador, Assis foi acusado de tráfico pelos mesmos policiais militares que o balearam e ainda ficou internado sob escolta policial por nove dias no Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias. Ainda no hospital, descobriu pelos jornais que era acusado de ter resistido à prisão e de portar armas e drogas, embora, levasse em sua mochila um desodorante comprado minutos antes, uma marmita e o gabarito do colégio.
Mãe de garoto morto na ação foi a primeira a depor
A primeira testemunha de acusação a ser ouvida sobre o caso da morte do menino Juan foi Adriana de Souza, mãe de Igor de Souza Afonso, morto aos 17 anos. O rapaz foi baleado no mesmo tiroteio em que Juan foi morto. Ela optou por falar diante dos quatro policias militares presos desde julho do ano passado.
Adriana pouco colaborou com seu depoimento, já que disse não saber nada sobre as circunstâncias da morte do filho e que só soube do envolvimento de Igor com drogas após a sua morte.
Usando óculos escuros e chapéu, Assis foi encaminhado ao auditório para ouvir a leitura da denúncia antes do início do depoimento das testemunhas. Assim como os parentes de Juan, o jovem e sua família vivem hoje sob o programa de proteção a testemunhas.
Mais cedo, a promotora de Justiça Júlia Costa da Silva Jardim havia pedido que a família de Juan, que vive sob a tutela do programa de proteção a testemunhas, seja ouvida em Brasília. O objetivo é evitar que os pais do menino Juan, Rosineia de Moraes e Alexandre da Silva Neves; seu avô, José Salvador; e seu irmão Wesley Moraes, outra testemunha-chave do crime, fiquem frente a frente com os acusados da morte do menino durante as audiências do processo em Nova Iguaçu.
Todos saíram do Rio dias após o crime e hoje vivem em local desconhecido. Segundo a promotora foi a própria Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República que orientou que a família de Juan fosse ouvida separadamente. O pedido, no entanto, foi negado pelo juiz Marcio Alexandre Pacheco da Silva. O magistrado considerou que, nesse caso, haveria limitações à atuação dos advogados de defesa e que, se for preciso, vai solicitar todo o aparato de segurança necessário para a vinda da família de Juan a Nova Iguaçu com segurança. Pacheco da Silva lembrou ainda que os réus podem ser retirados da sala no momento em que os pais, o avô e o irmão de Juan forem ouvidos.
Por conta do forte calor e do atraso no início da audiência, uma testemunha passou mal e teve que ser retirada do auditório. A expectativa é que 40 testemunhas de acusação e defesa sejam ouvidas nos próximos dias.
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